Você já está aprendendo. Só não percebeu (ainda).
Aprender é buscar ativamente o que te provoca, criar sentido onde ninguém vê, transformar o cotidiano em campo de experimentação.
Estou há quase oito meses publicando e interagindo muito pouco por aqui. Precisei desse afastamento para poder me dedicar ao término da escrita do meu novo livro, que se chama Aprendizado incidental: o poder do lifewide learning.
Adoro minha vida profissional – incluindo os projetos de consultoria da nōvi e minhas palestras –, mas é na pesquisa e na escrita que me realizo plenamente. Considero o ato de bloquear horas na semana para ler, conversar, pensar e escrever um privilégio sem fim. Porém, essa dedicação cobra um preço: sempre saio da temporada de escrita exausto, extremamente vulnerável e transformado.
O lifewide learning – o aprendizado que acontece em todos os domínios da vida – é uma paixão antiga. Acredito tanto em sua importância que ele está na assinatura da empresa que cofundei: nōvi – a lifewide learning company. Convivendo com as áreas de aprendizagem de algumas das maiores empresas do país, tenho visto de perto o tamanho do desafio de criar culturas de aprendizagem que realmente gerem desenvolvimento contínuo e promovam o upskilling exigido pelo momento em que vivemos.
O pior é que tenho acompanhado o ressurgimento de projetos de treinamento que se parecem muito com as práticas pré-pandemia: jornadas lineares, pouco inovadoras, com uns poucos workshops presenciais ou online que oferecem pouquíssimas oportunidades de autonomia e transferência de aprendizagem. Tenho a impressão de que os profissionais de T&D muitas vezes sabem o que não funciona, mas têm dificuldade de experimentar algo diferente, porque não temos um novo caminho definido. Estamos repetindo o passado – como se nada tivesse mudado.
Continuamos a pedir para os colaboradores e colaboradoras preencherem nossos sistemas com as atividades 70-20-10 que pretendem realizar ao longo do ano, sem ter a menor condição de acompanhar o que acontece de aprendizado informal (os 70-20 do modelo). Brinco que o preenchimento dos PDIs se parece com o do Imposto de Renda: acontece uma vez por ano e torcemos para atrasar a entrega. Continuamos desperdiçando um momento que poderia se transformar em um ritual de reflexão sobre aprendizado e crescimento.
É nesse contexto que escolhi escrever sobre lifewide learning. Especificamente, sobre uma parte dele que, embora muito importante, é pouco conhecida e pouco estimulada de maneira consciente: o aprendizado incidental. Em uma definição simples, trata-se do subproduto das escolhas de vida que a gente faz. É o aprendizado que ocorre no dia a dia, quando estamos de fato presentes: podemos aprender incidentalmente enquanto nos perdemos de propósito por um bairro desconhecido, visitamos uma exposição num museu, mergulhamos em uma nova tecnologia ou escutamos com atenção uma história de alguém de outra área da empresa.
Essa é uma forma de aprendizado que nos acompanha desde o nosso nascimento. Aliás, é por meio dela que aprendemos a andar, falar, nos relacionar – e desenvolvemos tantos outros conhecimentos básicos antes mesmo de pisar numa sala de aula. Ao longo da vida, passamos a dar muito mais atenção ao aprendizado deliberado e intencional do que a uma modalidade de desenvolvimento mais sutil e conectada às nossas escolhas de vida.
Veja bem, acredito que essa forma estruturada de aprender continua sendo fundamental. Meu primeiro livro é todo dedicado a ela. Contudo, como aproveitar os demais momentos da vida para aprender? A intenção do livro novo é responder a essa pergunta.
Sabemos que, no ambiente profissional, o aprendizado se dá enquanto desempenhamos nossas funções. É muito difícil saber quando estamos trabalhando e quando estamos aprendendo – se é que faz sentido essa divisão. O nosso crescimento acontece, muitas vezes, de maneira implícita e inconsciente. Quase nunca sabemos que estamos aprendendo. Percebemos o nosso desenvolvimento profissional sem conseguir identificar muito bem como ele ocorreu.
O que faço no novo livro é chamar atenção para um fato: podemos nos tornar conscientes desse processo de aprendizado e influenciá-lo em nosso favor, indo atrás ativamente do que nos é novo e diferente. É assim que de fato aprendemos.
É muito difícil achar tempo para aprender com intenção quando estamos desatentos, exaustos, pulando de reunião em reunião e expostos a um conceito de uma hiperprodutividade que mais assusta do que motiva.
Existe uma forma mais inteligente, efetiva e sensível de aprender ao longo da vida. Reconhecer que aprendemos no nosso dia a dia aumenta a responsabilidade das empresas e dos times: precisamos fazer escolhas mais ousadas, que valorizem a inovação, a arte, as trocas e as pausas para reflexão como alternativas importantes de aprendizado contínuo.
O livro será lançado no dia 11 de junho, mas a pré-venda começa nesta sexta, 9 de maio. Se você se interessa pelo tema – e quer potencializar um caminho de aprendizado que já experimenta no cotidiano, mesmo sem saber –, convido você para a leitura.
CEP+R
→ Conteúdo
Dicas de conteúdos, ferramentas e maneiras interessantes de integrar novos conhecimentos aos seus.
Continuo firme no hábito de ler ficção à noite, como prática de prazer, descanso e também de desconexão das redes. Meu último mergulho foi em Stardust, da escritora camaronesa Léonora Miano. Um livro lindo e potente sobre sua trajetória como migrante na França — uma busca por pertencimento, identidade e voz. A narrativa é íntima, política e literariamente poderosa. Um lembrete de que aprender também é expandir repertório afetivo e imaginar mundos possíveis
→ Experiência
Caminhos interessantes para ganhar repertório e praticar o seu aprendizado.
A Seiva é uma escola, editora e comunidade criativa. Uma das experiências mais especiais por lá é o Clube Seiva — que, além de trazer uma curadoria riquíssima de referências artísticas, promove as manhãs criativas: encontros com artistas para colocar a mão na massa (e no coração). Uma forma de aprender que atravessa o corpo, desbloqueia a escuta e alimenta o que a gente nem sabia que estava precisando.
→ Pessoas + Redes
Como aprender e ampliar sua visão de mundo a partir de outros olhares.
Me sinto parte de um grupo de ativistas da aprendizagem — e o Edu Valladares é um dos nomes mais inspiradores dessa rede. Com mais de 20 anos de atuação em educação, ele é autor dos livros Como aprender melhor e Criaway, criador da metodologia Guia do Estudo Perfeito na Descomplica, e presença em eventos como TEDx e SXSW Edu. Eduardo fala sobre aprendabilidade, cultura da vergonha, letramento de futuros e formas mais humanas de aprender. Seu trabalho conecta conteúdo, afeto e provocação com profundidade rara.